Meu filho só come alimentos orgânicos. Será?
Tenho certeza que você já ouviu falar sobre o termo orgânico e o quanto ele é benéfico para nossa saúde.
Algumas mães se veem paranoica com isso, outras, no entanto, se sentem frustradas por não conseguirem custear aquilo que todo mundo afirma ser o melhor para sua criança, já que a a diferença de preço entre os produto orgânico e os não orgânico é grande.
Como mães, desejamos ofertar aos nossos filhos o que há de melhor e sempre que possível adicionar à nossa panela alimentos saudáveis. Digo “sempre que possível” porque ter uma alimentação 100% orgânica não é uma realidade. O mais importante é saber da sua importância para quando for possível escolher entre um e outro, optar pelo melhor.
Conhecer o que é um alimento orgânico e saber onde buscá-los é muito importante para não comprarmos gato por lebre e não estourar o orçamento doméstico com isso.
O que é alimento orgânico?
Alimento orgânico significa culturas que foram cultivadas sem pesticidas ou fertilizantes sintéticos e que não envolvem organismos geneticamente modificados.
Pesticidas e fertilizantes são produtos feitos de combustíveis fósseis usados para nos ajudar a cultivar grandes quantidades de alimentos –, isso a princípio é razoável já que há muitas pessoas no nosso planeta para serem alimentadas, mas a maneira como eles têm sido usado tem causado sérios impactos ambientais e à saúde.
Isso ocorre porque com frequência os agricultores aplicam muito mais produto do que as plantas precisam e o excesso acaba fluindo para os rios, córregos e contaminam lagos e oceanos.
No que toca os fertilizantes, poderiamos pensar como uma coisa boa, já que são nutrientes extras, mas a verdade é que uma vez escoado na água eles prejudicam os peixes e outras formas de vida marinha porque cria o que se chama de “zona morta”, reduzindo o nível de oxigênio da água e matando os animais aquáticos.
Já o uso excessivo de pesticidas, a longo prazo, adaptam as pragas e as tornam resistentes produzindo microorganismos chamados de “superbactérias ou superpragas”.
Os alimentos orgânicos, por sua vez, evita o uso desses pesticidas e fertilizantes sintéticos agressivos. Mas seus benefícios não se limitam apenas ao meio ambiente.Os métodos de agricultura orgânica protegem também as pessoas que trabalham nas fazendas, que são regularmente expostas a pesticidas e que, a curto prazo, pode resultar em toxicidade ou envenenamento. A longo prazo pode causar doenças como o câncer, dificuldades de aprendizado e até má formação dos fetos.
Onde adquirir alimentos orgânicos?
O primeiro lugar que vem à nossa cabeça é no supermercado. Mas esse, talvez, seja o pior lugar para comprarmos alimentos orgânicos.
Começa-se pela dificuldade de saber o que comprar.
O supermercado está cheio de comidas com rótulos escritos “orgânicos” e “alimento natural”, que pode ser bastante enganador.
Para nossa infelicidade, há inúmeros pacotes e caixas de comida ultraprocessada com o rótulo de orgânico ou natural – principalmente nas comidas para crianças.
Depois vem a dificuldade do preço. Nas gôndolas de hortaliças e frutas, podemos identificar os orgânicos através de um selo do Ministério da Agricultura que confirma a procedência desses alimentos. É uma opção para quem pode pagar quase R$10 num pézinho de alface.
Mas há dois caminhos alternativos para adquirirmos alimentos orgânicos: do pequeno produtor ou de uma horta cultivada por nós mesmos.
Não é todo mundo que tem espaço para cultivar uma horta. Eu, por exemplo, tenho apenas uma sacada e meus vazinhos não são felizes nela, porque além de faltar sol direto a Catarina adora enxarcar as plantas sob o argumento de que elas estão com sede. Para nós, resta a opção do pequeno produtor.
O pequeno produtor
Nas cidades do interior é comum encontrarmos pequenas hortas. Nos grandes centros, devemos procurar por comunidades de produtores rurais.
Aqui em Florianopolis é possivel adquirir hortaliças e frutas orgânicas produzidas pelos alunos do curso de agronomia da UDESC (rua Admar Gonzaga) e também pelos serviços de entrega de alguns produtores locais.
A título de exemplo, citarei a fazenda Saraquá.
Saraquá é um sítio de agricultores familiares que tiram seu sustento exclusivamente da terra. Eles trabalham com outros produtores ecológicos da Rede Ecovida e cultivam folhas raízes, frutas, temperos, tubérculos e e entregam na sua casa numa espécie de serviço por assinatura.
Essa modalidade de agricultura e comércio mais sutentável está espalhada em todo Brasil e é conhecida como Comunidade em Suporte à Agricultura – CSA
Acesse o site da CSA e procure um grupo próximo de você.
A comida produzida pelo pequeno produtor é sempre melhor. Primeiro porque apoia a economia local. Além disso, tende a ser mais barato e são mais frescos porque levam menos tempo para chegar até você.
Alimentos cultivados perto de casa ajudam reduzir a emissão de carbono no meio ambiente, afinal a distância entre o local em que se cultiva o alimento e o seu garfo é muito menor.
Ademais, é importante sabermos que o transporte e o armazenamento longo das frutas e hortaliças afetam a quantidade de vitaminas e nutrientes desses alimentos, especialmente dos frescos que são reduzidos.
Todos esses fatores resultam em sabor melhor, refeições mais saborosas e mais saudáveis em termos nutricionais. Portanto, quanto menos transporte e armazenamento, melhor.
Sazonalidade dos alimentos
Falar de alimentos orgânicos significa falar também em sazonalidade.
Alimentos sazonais significam que são colhidos de acordo com sua época de safra natural (primavera, verão, outono, inverno), ou seja, época em que a natureza produz o alimento sem a necessidade de intervenção tecnológica.
Além de serem mais baratos (porque o suprimento é grande), os alimentos sazonais asseguram maior concentração de nutrientes e uso reduzido de agrotóxicos, como pesticidas e conservantes.
Infelizmente, hoje temos praticamente tudo o ano inteiro devido ao avanço da tecnologia de cultivo, como aplicação de gases de etileno para forçar o amadurecimento, por exemplo. Aparentemente a ação do gás somente estimula o metabolismo celular acelerando o amadurecimento, contudo esse amadurecimento artificial influência no teor vitamínico, diminuindo especialmente a vitamina C.
Para facilitar, conheça a sazonalidade dos produtos através desse site: http://www.ceagesp.gov.br/wp-content/uploads/2015/05/produtos_epoca.pdf.
Carnes Orgânicas
Para as carnes, a qualidade de orgânico significa ausência de antibióticos ou hormônios de crescimento desnecessários.
Há estudos que afirmam que o uso excessivo de antibióticos pode criar bactérias resistentes, de modo que precisamos de remédios cada vez mais potentes para combater as doenças.
Pessoas que precisam se submeter a algum tratamento com antibiótico e aos primeiros sinais de melhora abandona o remédio também contribui para a criação de superbactérias. Por isso nunca é demais anotar que a prescrição médica de um remédio (especialmente antibióticos) deve ser seguida com seriedade, mesmo por que ele estudou muitos e muitos anos para isso não é mesmo?
Os hormônios do crescimento são anabolizantes para acelerar a engorda do animal. Eles são permitidos em alguns países, como nos EUA, mas é proibido no Brasil -, pelo menos até a data em que escrevo esse post.
Mas falar de carne orgânica esbarra, inevitavelmente, em outro assunto: o modo de criação do animal.
Existem diferenças brutais entre um animal criado solto e criado em cativeiro.
Todo adulto que come carne deveria refletir um pouco sobre o assunto. Quem sabe até se aventurar a matar uma galinha uma vez na vida. Eu nunca matei qualquer animal que acabaria na minha panela, mas passei a infância vendo meu pai matar as galinhas do nosso quintal –, as vezes é do extremo que vem o aprendizado.
Hoje, adulta, penso que as crianças pequenas devem ser poupadas de assuntos tão pesados, mas respeitando o tempo e a capacidade de entendimento nossos filhos precisam aprender a ter consciência do que significa um pedaço de bife no seu prato.
Estamos tão acostumados a chamar a galinha de Nuggets; o boi de bife; o porco de bisteca, que criamos um distanciamento da realidade do significado de comer um animal que teve a vida sacrificada para virar comida.
Eu não sou vegetariana, mas levanto a bandeira do consumo consciente da carne. Acho lamentável, por exemplo, as churrascarias que seguem o sistema de rodízio –, ali as pessoas se empanturram de carne e já vão jogando os pedaços frios no pratinho no centro da mesa que, por incrível que pareça é colocado ali para isso mesmo –, acomodar o desperdício.
O consumo irresponsável da comida é inadmitido para qualquer alimento, mas no que toca a carne é ainda mais repugnante, já que um animal foi sacrificado para virar comida na nossa mesa.
Há um ativista culinário, que gosto muito, que diz: “Coma carne, mas não muito”. O nome dele é Michael Pollan.
De fato, não há razão nutricional para o consumo excessivo de carnes. A combinação de arroz com feijão, por exemplo, dá conta de suprir nosso organismo das necessidades diária de proteína (tem post sobre arroz e feijão aqui no blog, dá uma olhada).
Mas quando preparar a sua carne, tenha consciência desde o preparo, do significado sagrado desse alimento.
Conclusão
Nossa saúde, a saúde de nossos filhos e a saúde do nosso planeta estão intimamente conectadas e, em geral, as escolhas que são mais saudáveis para nós também são mais saudáveis para o nosso planeta.
E antes de terminar a escrita desse post, quero compartilhar com vocês um vídeo que assisti recentemente sobre a vida de alguns agricultores brasileiros. Por trás das embalagens bonitas nas gôndolas do supermercado há muita injustiça que nem sequer temos conhecimento porque pessoas como eu vivem em bolhas privilegiadas.
Pode ser doloroso ver o mundo sem a venda dourada que nos cega, mas é o melhor modo de nos humanizarmos.
Platão dizia que a melhor coisa que podemos fazer por aqueles que amamos é sermos melhores como seres humanos.
Muito obrigada por ler este post e não hesite me chamar caso queira conversar.
Não é simplesmente escrever qualquer coisa e publicar na
internet. Obrigado pela informação. Vou compartilhar o seu
artigo no meu instagram.