EU AMO MINHA FILHA E AMO A MINHA MATERNIDADE

EU AMO MINHA FILHA E AMO A MINHA MATERNIDADE

Tenho ouvido o início de um barulho, na internet, sobre o arrependimento à maternidade.

Mães têm levantado a voz para dizer uma frase bastante contraditória: “amo meu filho, mas odeio a maternidade”.

Foi o Evandro quem primeiro me mostrou uma matéria sobre isso e minha reação inicial foi: “acho que prefiro nem ler”.

Mas como as redes sociais correm atrás dos nossos interesses, não demorou muito para reportagens nesse sentido aparecerem na minha “timeline”.

Aproveitei o momento em que meu estômago estava bom e li uma delas.

De forma resumida são mulheres que afirmam “amar os filhos”, mas odeiam os cuidados e as renúncias exigidas pela maternidade.

Eu fiz um print de alguns comentários, veja:

 

 

Eu pensei sobre o assunto por alguns dias. Não ignoro que meus pensamentos são guiados pelas águas que me banham, e essas águas são a minha própria experiência com a maternidade; meus estudos, minha base cristã, meu estilo de vida…

Mas na busca de tentar escrever um artigo um pouco menos influenciado pelas minhas águas, dediquei um pouco de tempo para estudar sobre o amor através de outros ângulos. Então eu li as lições da ciência e da filosofia sobre o assunto.

De acordo com Mário Sérgio Cortella existe uma confusão entre os conceitos de afeto e amor. Ele diz (fonte):

A paixão é a suspensão temporária do juízo e embora seja deliciosa, ela transtorna. Ela é o ponto de partida, mas não pode ser o ponto de chegada. O amor é algo que te leva ao cuidado.

 

Amor e cuidado são palavras conectadas. Nesse sentido quem ama cuida e quem não cuida não ama, só diz que ama.

Isso porque são os gestos cuidadosos que expressam o amor, visto que o amor é uma ação.

O amor para o cristianismo é um mandamento; para a filosofia é uma virtude. Seja sob um ângulo ou sob outro, ambos concordam que ele exige um tipo de comportamento prático – é, portanto, jamais teórica.

Nesse sentido, aquelas que se levantam para dizer “amo meu filho, mas odeio dedicar tempo e empenho para limpá-lo, alimentá-lo, etc., em verdade não amam.

Uma leitura apressada conclui que toda mãe ama o filho, mas essa é uma ideia ingênua. Nem toda mulher está preparada para a maternidade, porque o feminino materno é expressão de potência e coragem que as fracas não suportam. Dar entranhas, dar colo, dar peito, dar prioridade: são, todos eles, atos reservados apenas para as fortes.

É fácil reconhecer que a raça humana é, de fato, inclinada ao egoísmo. Na prática, dá menos trabalho viver de forma egoísta porque perceber os demais dentro da minha própria consciência é ser exigente (como defende Platão) – demanda uma carga de energia.

Só existem dois modos de viver: viver para si ou viver para o outro. E isso não tem relação com a vida na espiritualidade, mas sim com o aqui e agora, com cada escolha do nosso dia. São exemplos: jogar lixo no chão; ter consumo consciente ou ser consumista; aproveitar os recursos naturais de maneira nociva ou responsável; fechar a boca em favor da paz familiar ou despejar lixo tóxico com suas palavras; exigir que sua família te sirva ou estar disposto a cuidar dela.

Para todo aquele que anseia por completude e se mostra disposto a encontrar um sentido para a vida encontrará o mesmo conselho: abra mão do seu “eu autocentrado” (egóico). Isso está na bíblia, na ciência e até na filosofia atéia.

No misticismo oriental, como a “A Voz do Silêncio” por exemplo, diz que devemos lutar contra a “heresia da separatividade” – isso significa, na obra, um patamar de evolução (chamada de sala da sabedoria) em que se percebe que a felicidade está além da percepção individual.

Sidarta Gautama (o Buda) diz que a felicidade é um conceito mais amplo que a relação de prazer e dor. Quando nos ocupamos a apenas sanar nossas dores e nos proporcionar prazeres, temos uma experiência de felicidade que é apenas passageira. Aquele que evolui encontra felicidade até nos momentos de desconforto.

Mesmo em Darwin, em apoio àqueles que defendem a sobrevivência do mais forte, do que melhor se adapta, temos a posição do pensador no sentido de que o ápice da satisfação é uma forma de vida comum em que os seres humanos consigam trazer para dentro da sua consciência a experiência e a vida dos demais.

E para não deixar de citar a bíblia: Pois, quando sou fraco, é que sou forte (2 Coríntios 12:10)

Reconhecer e tomar consciência de que não somos o centro da existência é um adultecimento facilitado para a mulher que se torna mãe e sabe aproveitar a oportunidade.

A boa notícia é que a ciência tem demonstrado que o jeito altruísta de viver coopera para a saúde mental, emocional, imunidade do organismo, longevidade, relacionamentos saudáveis, sensação de bem-estar, enfim, isso tudo que costumamos chamar de felicidade (felicidade como senso de realização e não no sentido de ficar rindo o tempo todo).

Uma última nota se mostra relevante: a maternidade não é uma obrigação e se evita com facilidade (muitas optam por pets e mal algum há nisso). Existe camisinha, existe anticoncepcional de uso contínuo com fornecimento gratuito pelo SUS, existe pírula do dia seguinte, existe aborto legalizado para os casos de estupros e existe, acima de todas as coisas: responsabilidade por nossos atos.

Viva para amar. Viva para cuidar. Viva para os seus filhos.

 

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